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Exposição individual Extração de Ramon Martins na Galeria Movimento

Texto por Débora Lopes

É um tom terroso, quase avermelhado, da mistura entre negro, branco e índio que tece a cor da pele dos ribeirinhos da Ilha do Combu, no Pará. Em suas casas de palafita, a simplicidade dos lençóis estendidos no varal encanta assim como a arquitetura modesta, mas engenhosa. Livres pelas varandas, as crianças dali ora brincam com os cães, ora mergulham no rio sob o sol a pino. Dessa convivência com a comunidade amazônica eclodiu a força motriz para que o artista plástico Ramon Martins pudesse materializar e exibir Extração, sua nova exposição individual na Galeria Movimento. A curadoria traz a assinatura de Ricardo Kimaid Jr.

Participar do Street River 2017, festival que convidou diversos artistas brasileiros a pintar as residências ribeirinhas da ilha, proporcionou a Ramon sua primeira experiência na Amazônia. Ali, os instintos de um amante da natureza que largou a metrópole paulistana para viver num sítio e se dedicar calmamente às artes, foi aguçada.

Sempre presentes em suas obras espalhadas pelo mundo, as mulheres com feições nipônicas cederam lugar às crianças paraenses e seus semblantes levemente indígenas. Essa nuance familiar, até então pouco explorada pelas obras do artista, assim como a presença de personagens masculinos, pulsa com vigor em Extração. Uma das pinturas com maior dimensão traz a jovem Danielle Farias e seu papagaio Drico, que trocou a vida selvagem e os companheiros que sobrevoam a ilha para ser domesticado e viver com uma família de humanos.

Ramon muniu-se de pincéis e tinta para transformar fotos suas e de amigos que estiveram na viagem em pinturas. Para isso, recorreu à técnica que vem desenvolvendo: o exercício de recolher fragmentos de ambientes por onde passa e usá-los como base para as obras. Os fragmentos retirados diretamente da parede geram, a princípio, uma abstração carregada de memória e do íntimo interesse do artista em transformar algo momentâneo em permanente. Em seguida a abstração dialoga com a pintura de personagens ribeirinhos que recebem cores feéricas, como o laranja fluorescente e o rosa-choque, inseridas nas cenas para enfatizar o vivo, o bonito e o aspecto tão brasileiro do Pará.

E é assim que crianças ribeirinhas como Suzane, Victor Hugo, Fernando e seus pais, tios e primos partem da Ilha do Combu, a 10 minutos de barco de Belém e, mesmo assim, raramente notada pelas autoridades locais, para o mundo. Seres humanos inicialmente retratados por câmeras e, em seguida, eternizados pelos traços de Ramon.

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